De volta à água, com o coração em Natal
Depois de Maresias, fui atrás das surfistas de Natal e encontrei histórias lindas; e uma que me cortou o coração
Depois de uma breve pausa, estou de volta por aqui. Desculpa o sumiço, o cansaço e uma gripe forte me pegaram de jeito. Após a cobertura da etapa de Maresias, quando fiz o que mais amo (acompanhar de perto o Circuito Banco do Brasil de Surfe), confesso que foi difícil voltar à rotina.
Acredito que por ter vivido algo tão pleno e apaixonante, retornar às funções cotidianas dói um pouco. E nem estou falando da maternidade. O Antônio está crescendo, cada vez mais autônomo, e sei que em breve não serei assim tão necessária a ele. Falo da volta ao trabalho como assessora de imprensa, como relações públicas.
Apesar de gostar do que faço, confesso: não tenho o mesmo tesão. Montar um planejamento estratégico ou fazer follow-up com a imprensa está a anos-luz da adrenalina de entrevistar os melhores surfistas do país. Estar ali, no front, sentindo o vento no rosto, vendo tubos perfeitos, ouvindo histórias que o surfe transformou. É disso que meu coração se alimenta.
Mas cá estou. De volta. E aqui, nesta newsletter, tento colocar minha essência na tela, sendo o mais honesta possível com você e comigo.
Ontem foi um dia intenso. Em São Paulo, me dei conta de que a etapa de Natal do Circuito já começa amanhã, dia 21, na praia de Miami. Apesar do nome, o lugar é brasileiríssimo e berço de talentos incríveis do surfe. Gostaria de estar lá.
Fui atrás dos nomes do surfe potiguar, em especial o feminino. E o que descobri mexeu comigo.
Fiquei sabendo que Alcione Silva, pioneira do surfe feminino, enfrenta uma depressão. Está sozinha, sem recursos para tratamento. Seu único alento tem sido a fé.
A história de Alcione merece ser contada com destaque. Quem ama o surfe e reconhece o papel das mulheres que abriram caminho com a força de um facão precisa olhar para ela com cuidado, respeito, admiração. Dói saber que uma mulher tão importante para o nosso esporte está em sofrimento.
Durante essa busca, encontrei também Tuca, uma treinadora de surfe. Mulher. Só isso já é um golaço. Tuca treina Maria Clara, de 16 anos, talento em formação que estará na etapa de Natal. Conversei com ela e quero compartilhar aqui um bate-papo leve. Maria Clara também representará o Brasil no Mundial da ISA e pode anotar esse nome, você ainda vai ouvir falar muito dela.
Que a gente nunca esqueça: para existir uma Maria Clara hoje, foi preciso que existissem ontem mulheres como Alcione, Tita e Silvana. Que esses nomes sejam protegidos, lembrados, respeitados.
Pingue-pongue com Maria Clara, 16 anos
Quando começou a surfar: dezembro de 2019, aos 10 anos
Primeira vitória: 2020, no Circuito Surf Escola, na Paraíba
Primeiro pódio estadual: 2021
Primeiro pódio nacional: 2022
O melhor de ser atleta de competição:
Viver experiências novas, conhecer outras culturas, ondas, pessoas — cada campeonato me leva a um universo diferente.
A parte difícil de competir:
A cobrança por resultados imediatos. As pessoas esquecem que é um processo, e que todo mundo está treinando forte.
Como concilia escola e eventos:
Minha escola ajuda bastante. Adianto tarefas com os professores, acompanho outras durante as viagens e atualizo o que falta quando volto.
Prefere competir em casa ou fora?
Gosto de competir em casa, mas a pressão é grande. As pessoas esperam que eu ganhe sempre.
Maiores inspirações:
Ítalo Ferreira, Juliana dos Santos e Stephanie Gilmore.
Sonho de surfar:
Bali, na Indonésia — ainda não fui por falta de patrocínio ou oportunidade.
Manobra favorita:
Snapy