Nem tanto sobre o mar, mas tudo sobre a vida
Há dias acompanho a história de Juliana Marins, publicitária carioca que aguardava resgate após cair durante uma trilha rumo a um vulcão na Indonésia
Não a conheço pessoalmente, mas por algum motivo a seguia no Instagram, tínhamos, inclusive, uma amiga em comum. De algum modo me sinto próxima a ela. Dizem que a dor aproxima.
A história, permeada de angústia e descaso, teve desde o início componentes que intrigam e revoltam. Como o parque seguia funcionando normalmente? Como ninguém realizou o resgate quando Juliana ainda era visível? Como conseguiram dormir sabendo que ela passaria a noite ali, com fome, sede, frio; e que ao menor sinal de sono poderia despencar ainda mais rumo ao abismo?
Penso por que a história de Juliana mexeu tanto comigo, a ponto de, ao acordar, a primeira coisa que eu fazia era checar informações na esperança de que, enfim, alguém tivesse conseguido salvá-la.
Hoje, a notícia é triste: Juliana não resistiu. Foram muitas horas sozinha.
Ontem à noite, pensei nela. Em como seria retomar a vida depois de uma tragédia assim. Como lidaria com o trauma, que cicatrizes ficariam na alma.
Agora, restam as cicatrizes nos pais. Pai, mãe, irmã. Além de perderem o amor de suas vidas, a filha de sorriso largo, que sonhava liberdade, compartilham com o Brasil inteiro a maior dor do mundo. Um luto que deveria ser íntimo, hoje é exposto.
Sinto tanto. E se, de algum modo, a história serve, que seja para ensinar sobre amor, respeito, celeridade das autoridades e proatividade de quem deveria zelar pela vida de vítimas como Juliana.
O descaso foi brutal. E implacável.
“Há 36 dias saí do Brasil sozinha pra viver esse mochilão. To vivendo devagar e sem muitos planos. Improvisando e deixando a vida acontecer”. Juliana Marins