Surf, falhas e resistência
Não queria deixar de escrever um texto hoje, mesmo correndo o risco de produzir algo fraco, sem muito sentido ou serventia. Mas, afinal, para que serve um texto, senão para entreter?
Tenho refletido sobre meus tempos caóticos, minha falta de disciplina e como impor metas para mim mesma acaba sendo um esforço tremendo – porque sei que, mais cedo ou mais tarde, vou falhar. Como falhei na semana passada, quando não publiquei a edição semanal da newsletter.
Estava prestes a falhar novamente quando enchi os pulmões de ar, como quem enfrenta uma arrebentação, e comecei este pedaço de pensamento.
Aos 40 anos, falta tempo para o supérfluo, e, mesmo assim, parece difícil corrigir falhas, aceitar a sombra, as características que me tornam imperfeita, cheia de defeitos. E, como disse Clarice, jamais cortaria minhas imperfeições – pois pode ser que sejam elas que sustentam minha estrutura. Talvez meu ritmo, sem coreografia marcada, seja justamente meu combustível.
Não quero transformar esta newsletter em uma espécie de diário confessional, nem na sala do meu terapeuta – a quem dei alta, mesmo sabendo que ainda preciso dele. Quero que seja um espaço para insights brilhantes, dicas surpreendentes – mas não tem sido assim.
Hoje, falhamente, sigo com a ideia de um texto não ficcional em tom de confissão. Preciso admitir que ando surfando, que perdi a vontade de certos trabalhos e que ainda sonho em desempenhar minha função de jornalista de surf remunerada.
Preciso confessar que o medo ainda vem, mesmo sabendo que o processo que sofri, após reportar um caso de agressão no mar, foi encerrado – e que eu ganhei. Abaixo, um trecho da sentença:
"Concernente à entrevista prestada à repórter Janaína Pedroso Sousa (ev. 1, OUT6), e publicada na página Origem Surf, não existem provas de que a notícia distorceu a verdade ou teve ânimo de ofender o autor, de modo a exigir que os requeridos excluíssem o conteúdo vinculado, se abstivessem de realizar publicações relacionadas ou se retratassem publicamente, tendo em vista o direito de informar e a liberdade jornalística.”
Recentemente, recebi um invoice de um fotógrafo irritado por ver sua foto no meu feed, mesmo com os devidos créditos.
Ontem, fui notificada.
Às vezes, sinto que minha existência no surf é um ato de resistência. Ou seria pura teimosia?