Uma noite gélida na inesquecível Bells Beach
Surfar em Bells era um sonho, e um dia se tornou realidade. O que não imaginava era conhecer a icônica onda australiana depois de uma noite em que quase congelei, literalmente.
A próxima etapa do circuito mundial de surf está para começar, e o palco é a emblemática, embora controversa, Bells Beach. Apesar de muitos acharem que o destino não agrega no Championship Tour, enxergo em Bells um toque de origem. Algo autêntico e muito especial.
Desde que me tornei surfista, quando comecei a explorar o mundo das ondas, as mais famosas, as mais dificeis, Bells ocupava meu imaginário. Assim como Uluwatu e G-land, eu sonhava surfar Bells Beach.
Foi em 2011 que meu sonho se materializou. Deixando para trás a solidão que marcava minha estadia em Perth, parti para Sydney com pouca bagagem, mas cheia de esperança. Mesmo com malas leves, meus planos eram imensos!
Após meses em Sydney, reencontrando meu equilíbrio, a notícia da etapa em Bells chegou. Uma edição comemorativa dos 50 anos do evento me impulsionou a agir. Então convenci minha amiga Camila, brasileira que vivia em Melbourne, a me acompanhar na aventura.
Porém, subestimamos o impacto histórico dos 50 anos de um dos campeonatos mais tradicionais do surf, talvez o mais emblemático da Austrália. Sem surpresa, Torquay estava lotada, sem um quarto, uma cama ou um colchão disponível em qualquer albergue, pousada ou hotel.
O resultado foi uma noite no carro, que se tornou uma das experiências mais desafiadoras da minha vida. O interior do carro virou um freezer em questão de horas, assim que o sol caiu no horizonte. O frio intenso me fazia tremer incessantemente, e o sono era uma ilusão, com o gelado dominando minha mente e impossibilitanto qualquer relaxamento.
A salvação veio já na madrugada, com uma garrafa de vinho e um desconhecido que nos ofereceu uma barraca e um quintal. Rapidamente, trocamos o carro gélido pela barraca, ainda fria, mas agora sem o risco de hipotermia.
No dia seguinte, ainda com frio, me cobri dos pés à cabeça e fui assistir aos melhores surfistas do mundo sob um sol radiante.
Como era linda Bells Beach.
Naquele momento, estar em Bells era medicina, cura, alegria. Era realizar um sonho.